segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O FIM (OU MUDANÇA) DOS CAMPEONATOS ESTADUAIS

Começaram, no fim de semana passado, os campeonatos estaduais.
Uma tradição única no futebol mundial.
Há os que pregam o fim dela.
Há os que a defendem por motivos políticos ou afetivos.
Até os anos 1960/1970, os campeonatos estaduais eram o que havia de mais importante no futebol brasileiro.
O mais espetacular era o campeonato estadual do Rio de Janeiro, depois o paulista.
A léguas, o mineiro, o gaúcho, o baiano, o pernambucano. 
O Rio era a corte, a capital da República, o centro de tudo.
O seu futebol glamuroso invadia as casas dos brasileiros em todos os recantos do país pelas poderosas emissoras de rádio (Como a TV Globo faz hoje com os times de Rio e SP.).
Predomínio absoluto de Rádios como a Nacional, que atingia o país de ponta a ponta, a Continental, a Tupi, a Tamoio, a Mayrink Veiga.
Todas eram emissoras cariocas.
Os seus narradores eram lendas do rádio, os mais famosos do Brasil.
Eram eles os mineiros  Waldir Amaral, Jorge Curi e Ary Barroso e os paulistas Oduvaldo Cozzi e Doalcey Camargo.
Estes famosos locutores colonizaram o Brasil futebolisticamente.
Os torcedores de outros estados tinham como seu primeiro time, um carioca.
O time do seu estado era sempre o segundo.
Perguntava-se assim:
__ Para que time você torce no Rio?
Depois: 
__ Para que time você torce em Minas?
Esta colonização demorou muito e só foi revertida em parte.
Em meados dos anos 1960 começaram as transmissões de futebol pela televisão, com a finada TV Tupi do Rio.
Em relação ao futebol de hoje, todavia, o que se jogava até princípio dos anos 1960, era amador.
Mesmo com Pelé e Garrincha, mesmo com o Brasil campeão mundial de 1958 e 1962, o futebol era amador.
TV Tupí do Rio (em Minas a TV Itacolomi após o  Mineirão) transmitia os jogos sem nada pagar aos clubes.
E eles ainda ficavam agradecidos.
Não havia patrocinadores.
As rendas para pagar e contratar jogadores vinham das bilheterias e de doações.
Como o futebol carioca e o futebol paulista tinham o Pacaembu e Maracanã, eram  mais ricos e compravam os melhores jogadores dos outros estados. 
Assim, em 1958 e 1962, os times cariocas e paulistas contavam com todos os jogadores que foram campeões do mundo.
E eles se tornaram atrações que rendiam bom dinheiro nas excursões internacionais. 
Então aconteceu a primeira revolução no futebol brasileiro
No meio dos anos 1960, com o crescimento vertigionoso das grandes cidades, foram construídos enormes estádios fora do chamado eixo Rio-SP.  (O primeiro fora do eixo foi o  Mineirão.)
O país tinha 70 milhões de habitantes cuja maioria, pela primeira vez, não habitava o campo.
Com os grandes estádios e arrecadações nunca antes imaginadas, os grandes times de Minas e do Rio Grande do Sul, principalmente, puderam pagar e reter os seus melhores jogadores. 
O Morumbi reequilibrou São Paulo e deu-lhe força financeira próxima à do Rio.
Houve um crescimento vertiginoso de Cruzeiro, Atlético, Grêmio, Internacional. (Depois, Coritiba, Furacão, Bahia, Vitória, Goiás.)
As rendas de bilheteria eram a grande fonte de renda dos clubes e os campeonatos regionais ficaram atraentes.
Embora os times pequenos tivessem renda muito menor em seus campinhos acanhados, quando jogavam com os times grandes no Mineirão, no Olímpico ou no Beira Rio punham as contas em dia.
A renda era dividida, senão meio a meio, de uma forma a reforçar o caixa dos pequenos.
Era a cópia exata do que acontecia com os pequenos do Rio de Janeiro  de São Paulo.
Nesta época, os campeonatos estaduais em Minas e no Rio grande do Sul ficaram fortes, ao lado do paulista e do carioca.
Mas por um período curto.
Logo em seguida, nos anos 70 e 80 outra revolução se fez.
Surgiram e prosperaram os patrocinadores, e a televisão começou a pagar os clubes.
Sobreviveram só os grandes.
Os que tinham grandes torcidas a oferecer como clientes das grandes marcas.
Os que são interessantes para os patrocinadores.
Os clubes pequenos desabaram.
Times tradicionais de Minas, por exemplo, desapareceram completamente: Siderúrgica, Bela Vista e Democrata de Sete Lagoas, Asas de Lagoa Santa, Metalusina, Valeriodoce, Meridional de Lafaiete, o Formiga.
Bangu e América, que foram campeões cariocas e quase campeões brasileiros, hoje são apenas sombras.
Não interessa, hoje, ao patrocinador, à televisão, campeonatos onde se encontram times sem torcidas.
Qual o interesse que pode haver para o patrocionador, um jogo entre Volta Redonda e Quissamã?
Entre Nacional de Nova Serrana e Guarani de Divinópolis?
Entre São Bernardo e Barueri?
Ano após ano, os estaduais passaram de disputa principal a estorvo.
É penoso acabar com eles, com esta tradição tão brasileira, única no mundo.
Mas eles não poderão mais ser disputados de um modo que foi vencido pelo tempo.
É necessário um novo formato.
Os tempos românticos em que um pequenino como o Siderúrgica podia bater um gigante como o Cruzeiro acabaram.
E não voltarão.

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