segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O FUTEBOL É UM JOGO FEMININO



Brasil e Alemanha, 1965, amistoso no Maracanã.
Pelé quebrou a perna do zagueiro alemão Kiesman.
Santos e Cruzeiro, 1968, Taça de Prata no Mineirão.
Pelé quebra a perna do beque Procópio Cardoso, ex-Galo
Fluminense, na melhor fase de sua carreira, quando aguardava ser convocado para a seleção brasileira.
Procópio nunca mais jogou futebol.
Em 1985, Márcio Nunes deu uma voadora nas pernas de Zico – que também foi por cima da bola.
Não me lembro se houve fratura ou se rompeu ligamentos.
Zico nunca mais foi o mesmo, sempre capengou dali por diante.
Morais, zagueiro do Cruzeiro, estraçalhou o joelho de Reinaldo.
Em anos anteriores, houve jogadas, como aquelas de Pelé e Márcio, que podemos chamar de criminosas.
Como esta do zagueiro inglês sobre o brasileiro Eduardo da Silva, então no Arsenal.
Dos anos bárbaros, hoje, pouca coisa restou.
Hoje, o futebol é jogado com muita lealdade.
Os locutores e narradores de TV gostam, entretanto, de alardear “entradas criminosas, pedir expulsões e cartões amarelos, pênaltes e faltas à todo instante.
Talvez o termo "entrada criminosa" tenha sido inventado por Nelson Rodrigues, dramaturgo e cronista esportivo e frasista de mão cheia que foi, também, repórter de polícia.
Gostava de inventar dramas e tragédias.
Talvez os narradores de hoje, repetindo este bordão, queiram melhorar audiência das transmissões esportivas.
Pode ser.
Mas o futebol tornou-se mais e mais profissional, as punições mais rigorosas - inclusive com uso de vídeo - e o mundo ficou menos machista.
A expressão “futebol é pra homem” virou folclore.
Soa até ridícula quando algum locutor arranca-a da catacumba.
E arrancam. (Os idiotas nunca nos deixam em paz.) 
O futebol, como jogo, é um dos mais femininos.
Ele pode ter contato físico, mas sua essência não é o contato.
Ao contrário do Rugby ou do futebol americano.
Estes, sim, exigem virilidade, embate físico, duríssimo contato.
O jogador agarra a bola e parte com ela.
Para tomá-la, o adversário tem derrubá-lo.
O pressuposto desses jogos é o embate físico.
O futebol da bola 5, não.
É feito de habilidades, dribles.
Nesse sentido é bem feminino.
Mas ninguém quer que este jogo já tão feminino se torne uma disputa de mentirinha.
"Dá licença? Posso disputar esta bola?"
Não. 
Quando for necessário o contato, que haja o contato.
Se for um contato áspero, que seja.
Violência tem que ser naturalmente coibida e condenada, mas ver maldade em qualquer disputa mais dura é um desserviço ao futebol.
E devemos saber que acidentes vão acontecer em algum jogo.
Como acontecem na vida.
No banheiro, no quarto, na calçada.
Mas no futebol, acontecem cada vez menos, ano a ano. 
O ano de 2013 começou com duas fraturas graves de jogadores de futebol.
Tonhão do Cametá que fraturou tíbia e fíbula em choque com o atacante Jayme, do Remo.
Valdívia, do ASA de Arapiraca, fraturou o tornozelo.
O ano inteiro de 2012, entretanto, teve só três fraturas graves.
Pimenta, do Cincão, que levou entrada violenta de Paraíba, jogador do Grêmio Maringa, divisão de acesso do paranaense
Héber, do Figueira – fraturou tíbia e fíbula – depois de entrada do zagueiro Souza da Chapecoense.
Kleber Galdiador sofreu fratura incompleta numa entrada de Leo Carioca, tentou continuar jogando e não conseguiu. Ficou dois meses parado.
As demais, que chamaram atenção foram Caio do Figueira que quebrou o metatarso do pé esquerdo, sozinho; Dedé com fratura incompleta contra o Internacional.
Em 2012, o número de pessoas que se machucou gravemente lavando a cozinha é muitíssimo maior do que o de lesionados jogando futebol.
É bem provável que os que se contundiram tomando sorvete também superem os contundidos no futebol.
Assim, é ridículo o que fazem narradores e comentaristas de futebol quando pedem cartão vermelho para o vento que atrapalha os cabelos do Neymar.
Isto tem levado juízes a apitar faltas "à brasileira", como o pênalte inventado que deu empate ontem ao Santos, aos 46 do segundo tempo.
Isto mais prejudica do que ajuda o Neymar.
Que não precisa de nenhuma ajuda externa, já é bom o suficiente. 
Acho mesmo que ele devia ir para a Europa, onde esse protecionismo não existe.
Assim ele poderá se desenvolver, como Messi, que não fica se jogando.
Hoje, não consigo me lembrar de nenhum jogador em atividade no Brasil que procura atingir o outro por maldade.
Qual?
Não existe.
Aquela fase de “futebol é jogo pra homem” e lá vai patada acabou.
Foi superada.

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