quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

RONALDINHO: INTELIGÊNCIA, ESPERTEZA OU MALANDRAGEM

A jogada que resultou no primeiro gol do Galo contra o Bambi, ontem, na Arena Independência está dando o que falar.
Os principais jornais do mundo comentaram.
O Marca, da Espanha: "Dos genialidades de Ronaldinho acaban com el Sao Paulo"
O argentino Olé: "Avivadinho".
A Bola, português: "Polémica assistência de Ronaldinho".
Na Inglaterra, o The Sun, chamou a jogada de "Water Joke" (pegadinha da água) e considerou-a um dos truques de maior genialidade da carreira do jogador.
E por aí afora. 

Já o próprio disse apenas que "foi sorte".
O certo é que Ronaldinho tirou proveito da regra.
A regra diz que na cobrança de lateral não há impedimento.
Daí, não houve ilegalidade.
Mas a construção do lance tem sua história.
Cada um vai contá-la mais ou menos igual, ou seja, mais ou menos diferente.
As histórias são mais importantes do que os fatos.
Trinta minutos do primeito tempo.
O lateral alvinegro Júnior César era atendido pelos médicos e seria levado para fora de campo.
Do outro lado, Marcos Rocha esperava o atendimento para cobrar um lateral na intermediária tricolor.
Jogo parado e Ronaldinho, suado, pede água a Rogério Ceni.
Queria lavar a boca, bochechar.
Fazia muito calor em BH, o jogo era desabrido, pegado.
Ceni e Ronaldinho foram colegas na seleção campeã mundial de 2002.
Ceni ofereceu sua garrafinha d'água e o meia bebeu, bochechou, molhou as mãos.
Devolveu a garrafa ao amável goleiro e foi saindo devagar, no caô.
Caô quer dizer "enganação" na linguagem de Bezerra da Silva.
Caminhou para a direita, dentro da grande área sampaulina, quase rente à linha de fundo.
No momento em que bebia, o acaso rolou uma pedrinha à sua frente. 
E ele viu a linha de quatro do tricolor lá na frente, uns 15 metros adiante. 
Ou já tinha visto e por isso foi pedir água ao Rogério?
Em um lance normal, Ronaldinho estaria completamente impedido.
Mas haveria uma cobrança de lateral... sem impedimento, portanto.
Uns poucos segundos antes, Tardelli se aproximou de Marcos Rocha - o que ia cobrar a lateral - e cochicou algo.
Tardelli viu Ronaldinho rente à linha de fundo e avisou a Marcos Rocha?
Ou Marcos Rocha já tinha visto?

Jô, percebeu a história se desenhando e enfiou-se no meio da linha de quatro do Bambi.
Nesse momento, o lateral Cortez teve o lampejo do que acontecia.
Do que estava sendo tramado.
Atônito, olhos arregalados, apontou para trás, apontou o perigo e partiu sobre Ronaldinho.
A bola, entretanto já fora lançada.
Não havia mais tempo para interromper a jogada.
Ronaldinho dominou-a junto à linha de fundo e cruzou para Jô completar.
Um a zero.
Hoje, alguns jornalistas dizem que foi malandragem de Ronaldinho.
Outros, incomodados com a palavra "malandragem", dizem que foi inteligência.
Outros, ainda, que foi esperteza.
Bezerra da Silva diria que foi "caô".
Caô é enganação, uma fresta que os menos favorecidos faziam aparecer no sistema para tirar alguma vantagem, sobreviver.
Coisa de João Grilo.
Esperteza no aperto.
Olho vivo no acaso que rola uma pedrinha e cria a possibilidade.
Foi acaso?
Sim.
Mas Ronaldinho forçou o acaso a se manifestar.
Caô.

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