segunda-feira, 7 de outubro de 2013

JUÍZES E POLICIAIS NO FUTEBOL

Os grandes estádios brasileiros foram construídos em épocas de autoritarismo.
Isto se refletiu na arquitetura.
O público foi separado em castas.
Lugares confortáveis para quem podia pagar por camarotes,  cadeiras cativas, em seguida pelas arquibancadas onde se via o jogo sentado em escadarias e, por último, a geral, onde a plebe via os jogos de pé.
A mesma divisão dos teatros imperiais onde ficavam, arquitetonicamente separados, os nobres, os burgueses e a plebe.
A geral, com o tempo, ganhou glamour - como a Muralha Amarela do Borússia de Dortmund na Alemanha.
Como a geral do antigo Estádio Olímpico.
Mesmo as do Maracanã e do Mineirão.
Mas a sua gênese está na exclusão social.
Na separação das castas sociais.
Do mesmo modo que o fosso, inspirado nos castelos medievais.
O campo de jogo, longe do torcedor que, se tentasse invadir o campo, teria que transpor uma vala de cinco metros de profundidade por dois de largura.
Alguns caíram lá no fundo.
E morreram.
Tudo isso contrariava a tradição brasileira do futebol  que nasceu na várzea onde os torcedores se apinhavam - e ainda se apinham - em torno do campo de jogo, sem nada a separá-los dos jogadores.
Primeiro vieram os alambrados no estádios menores e depois o fosso medieval nos maiores.
Agora foram abolidos pela Fifa nas arenas do mundial.
É um avanço.
A divisão de castas foi assimilada pelo capitalismo das grandes arenas mundiais, com uma alteração.
Os lugares mais caros não são mais confortáveis que os mais baratos.
São apenas mais próximos do campo de jogo.
O antigo teatro foi, digamos, civilizado.
Mas continua imperial.
Dos tempos da ditadura, resta incólume a proteção policial aos juízes de futebol ao final das partidas.
É terrivel de se ver quando os juízes terminam os jogos e, ato contínuo, um grupamento militar de guarda-costas fortemente armados - militares com capacetes, escudos, cassetetes e armas - corre para cercar os apitadores que ficam reunidos no meio do campo.
É humilhante.
Como se os torcedores fossem terroristas.
Ou bandidos.
A televisão mostra a cena constrangedora.
No estádio, a cena é ainda mais vergonhosa. 
Pelo tempo de exposição.
Um jogador ou um técnico ou um dirigente aproxima-se dos árbitros para dizer alguma coisa e é impedido por uma muralha de escudos.
Nenhum deles pode fazer nada contra os juízes, além de algum xingamento ou ironia. 
Mesmo assim sujeitando-se a severas punições.
Uma agressão é inimaginável - implica desde a perda de mando de campo até a exclusão do futebol.
Jogador, técnico ou dirigente podem ser doidos, mas têm juízo.
Nenhum deles ultrapassa o permitido. 
Mas a escolta policial está lá.
Permance, mesmo na modernas arenas, como sinal autoritário. 
E constrangedor.
E ridículo.

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