Na melhor parte do jantar, Seedorf falava sobre os problemas do início
de carreira. Logo depois de deixar o Ajax, iria para a Juventus, da
Itália. O negócio emperrou. "Na minha carreira, sempre tratei as crises
como oportunidades." Dois anos depois, ele vestia a camisa 10 do Real
Madrid, campeão espanhol.
O holandês é um dos interessados em melhorar o futebol brasileiro. Não é
líder, mas um dos apoiadores do movimento Bom Senso F.C. Acuados pelo
crescimento das manifestações, os dirigentes da CBF fingem não enxergar
uma crise. Muito menos uma oportunidade.
No Brasil do futebol, os problemas agravam-se pela absoluta falta de habilidade de Marin e Marco Polo Del Nero.
Todo mundo pensa nas fórmulas capazes de tornar o futebol brasileiro
melhor. Seedorf também. "Os estaduais poderiam ser como a Copa da Liga
Inglesa. Jogados no meio de semana, os clubes grandes usariam reservas,
mas escalariam jogadores importantes várias vezes. Os suspensos, os que
voltam de lesão."
A pergunta não é se a teoria está certa ou errada. A questão é que
Seedorf pensa. Paulo André pensa. Alex pensa. E quem tem a função de
pensar foge do problema.
Empurra seus funcionários para situações constrangedoras, como a que
viveu o árbitro Alício Pena Júnior nesta semana. Sem noção, decidiu
cumprir ordens e avisar os jogadores que aplicaria cartão amarelo em
quem se manifestasse durante São Paulo x Flamengo. Alício potencializou o
constrangimento.
Seedorf está neste texto apenas por ter participado de um jantar com
este colunista dez dias atrás e exposto toda a sua capacidade de
refletir sobre questões que não são obrigatoriamente as dele.
De pensar no desenvolvimento do futebol em um país que não é o seu. Ele
próprio, símbolo de um campeonato que se enche de craques na mesma
medida em que se esvazia de público.
Durante anos, repetiu-se que o Brasil não tinha estádios lotados, porque
não tinha ídolos. Nos últimos três anos, Neymar, Seedorf, Ronaldo,
Rogério Ceni, Luís Fabiano e Ganso trocaram passes por aqui.
O Brasileirão tem jogadores importantes de seleções relevantes, como
Vargas, do Chile, Lodeiro, do Uruguai, Montillo, da Argentina. E os
estádios estão às moscas, exceto nas grandes decisões.
Thiago Silva recebeu telefonema convocando os jogadores da seleção da
qual é capitão a ingressarem no movimento. Na maior parte, os craques de
Felipão jogam fora do Brasil. Partiram em busca da organização que não
temos.
Seedorf fez o caminho contrário. Chama o Brasil de Meca do futebol numa clara a referência ao potencial que aqui existe.
Por ora, a CBF faz da Meca um mico.
Existe uma crise. Que grande oportunidade
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