terça-feira, 4 de março de 2014

UM HOMEM DE ESQUERDA A FAVOR DA COPA NO BRASIL

Sou um homem de esquerda, sempre fui. Sindicalista, integrante do antigo Partidão, trabalhador da indústria na juventude, piqueteiro. Participei de todos os movimentos sociais e políticos dos últimos 50 anos. Do lado bom, segundo meu próprio julgamento. Esquerda para mim, hoje, se resume em duas lutas que abarcam as demais: inclusão social e qualidade de vida. 
Dito isto, direi: gosto da realização da Copa do Mundo no Brasil.
Muitos dos meus amigos, maioria mesmo, são contra.
Muitos dos jornalistas que considero jornalistas de verdade são contra.
Eu sou a favor.
O argumento contrário mais usado é que a copa custa, para o país, um sacrifício que poderia ser feito para melhorar escolas, hospitais, infraestrutura de transportes, etc.
Para mim, estas coisas não estão atreladas.
Não se pode eliminar o dinheiro das leis de incentivo à cultura para construir presídios, por exemplo.
Outro argumento, rasteiro até, é que a preparação da copa é uma gastança que beneficia e abre portas para os espertalhões.
Espertalhões há na política, na indústria, nas igrejas, na educação, na cultura.
Vamos deixar de fazer tudo por causa dos espertalhões?
Argumenta-se contra, ainda, que se construiram 12 estádios e que alguns deles vão se transformar em elefantes brancos.
Citam, em defesa da tese, os elefantes brancos que resultaram da copa na África do Sul.
Mas a copa na África, digo eu, foi um erro da Fifa e do país de Mandela.
Lá o futebol é pouco importante.
É como se construíssemos no Brasil uma grande estrutura para abrigar a Copa do Mundo de Rugby ou de Baseball.
Não daria certo.
Falando em elefantes brancos, o estádio de Manaus talvez vire mesmo um deles.
E o Mané Garrincha não vai impulsionar futebol no DF. 
Talvez fosse melhor reformar o estádio de Goiás, o Serra Dourada.
Mas gosto de jogos da copa na Amazônia.
Poderíamos fazer uma copa com baixos custos no sul maravilha, mas não seria a copa do Brasil sem jogos no Pantanal, no Amazonas, nas dunas do RGN.
Os EUA fizeram uma copa medíocre com jogos ao meio dia em campos de futebol americano em estados como Illinois onde, penso, nenhum garoto já marcou um gol.
E só havia, nos EUA, dois estádios razoáveis.
O de Washington e o de Detroit.
Os demais eram panelões ao relento.
Péssimos.
Mas a copa foi do país, não a restringiram aos estados que fazem divisa com o México e onde há mais aficionados.
Outro argumento contrário é sobre um legado pobre que a copa deixará.
Penso que será um legado importante, embora na realização de uma festa o legado principal seja outro.
Ninguém faz um festa e convida amigos para reformar a casa, construir outro banheiro, trocar a fiação.
O legado de uma festa é a alegria da própria festa e o bem que ela faz para quem vive na casa.
Melhorar a casa faz parte, mas não se faz a festa para melhorar a casa.    .
E estamos melhorando a casa para fazer uma boa festa.
Pelo menos em Belo Horizonte, onde vivo, há inúmeras e importantes obras que tornarão a vida dos mineiros daqui mais confortável.
E temos novos estádios.
O Brasil terá, de agora por diante, estádios de futebol.
Até a reinauguração do Mineirão, Maracanã, Mané Garrincha, Fonte Nova e todos os outros, tínhamos estádios velhos, pardieiros da bola caindo aos pedaços.
Não é possível um bom futebol, profissional, direcionado a um público que quer e merece comodidade, em estádios como os que tínhamos. 
Estádios medievais, com fossos separando os artistas do público.
Dava vergonha e mesmo nojo ir ao campo.
Dava vergonha até ver pela TV, mesmo ela que fazia truques de transmissão para maquiar o péssimo visual que os velhos estádios apresentavam.
Dou um exemplo: o futebol de competição só passou a existir em Minas depois da inauguração do Mineirão.
Antes, Cruzeiro e Atlético eram pouco mais que times amadores.
O bom estádio é essencial para o futebol.
Sem a copa, nosso futebol seria jogado por anos e anos, décadas, naqueles campos horríveis. 
Com os velhos estádios, o campeonato brasileiro não seria vendido para o exterior, não interessaria aos espectadores de outros países.
É possível que o próximo campeonato brasileiro, jogado nos novos estádios, desperte mais interesse do que os anteriores e que isto signifique maior rentabilidade para os clubes.
É ótimo ver o campeonato inglês, espanhol, alemão disputado em belos estádios, com grandes públicos.
Do mesmo modo que é desinteressante o campeonato argentino em seus estádios arcaicos.
Sem a copa estes novos estádios não existiriam.
Estaríamos condenados a muitos anos de atraso.
Nada justifica, no entanto, as falcatruas.
E elas existirão.
E nada justifica as baboseiras que são ditas a favor da realização da copa pelos Ronaldinhos e Aldos e Jerômes e tais.
O futebol e a inteligência (até a mediana inteligência) as dispensam agradecidos.
Por fim, devo dizer que eu, torcedor de futebol, não gosto de jogo de seleções, não gosto de seleções.
Para mim, seleção é uma coisa artificial, um junta-junta de ocasião.
Não consigo torcer para a seleção.
Só torço para o meu time.
Mas não sou contra a realização da copa no Brasil.
Sou a favor.

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